sábado, 4 de abril de 2015

Barrocas-Ba: Experiências de convivência com o Semiárido aplicadas no município

MOC destaca experiências de economia solidária e de convivência com o Semiárido aplicadas em Barrocas

Uma matéria publicado no site do Movimento de Organização Comunitária (MOC) no dia 26 de março, conta histórias de duas famílias barroquenses e de uma associação de mulheres que conseguiram melhorar de vida ao aprender técnicas de produção que ajudaram na conviver no semiárido. As experiências foram apresentadas a pequenos produtores de outras cidades que participaram de um intercâmbio promovido pelo MOC com objetivo de trocar experiências.

Momentos de emoções, trocas e aprendizagens no intercâmbio em Barrocas

O intercâmbio faz parte das ações do Programa Uma Terra e Duas Águas, da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), desenvolvido pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC), com apoio do Ministério de Desenvolvimento Social (MDS).
Todos queriam registrar a horta orgânica livre de agrotóxicos

O sol distribuiu seu brilho destacando o verde que insistia em compor o cenário. Por onde passaram, os agricultores e agricultoras familiares dos municípios de Retirolândia, Riachão do Jacuípe e Ichu saciavam a curiosidade despertada diante de tantas novas aprendizagens durante intercâmbio realizado entre os dias 23 e 24 de março às comunidades rurais do município baiano de Barrocas.

No primeiro dia da atividade o calor forte não foi obstáculo para a visita ao grupo de produção Delícia da Terra, na comunidade de Lajedinho, composto por mulheres que escrevem com garra suas histórias e a história do lugar antes invisível para muitos. Dona Zefinha, como é conhecida na região, junto às filhas, netas e outras parceiras do grupo de produção se alegraram por abrir as portas da unidade produtiva e apresentar suas experiências de economia solidária e de convivência com o Semiárido.
Grupo de produção Delicia da Terra fala sobre suas 
ações de planejamento, organização e comercialização

“Os moradores de Lajedinho passaram a entender mais sobre agricultura familiar, convivência com o Semiárido e sobre os princípios agroecológicos depois que foram realizadas diversas formações, oficinas, intercâmbios e visitas a outras propriedades de agricultores familiares na região e também fora do estado”, conta Nilda dos Anjos, integrante do grupo eleita a primeira presidenta da Associação Comunitária local. Acompanhados pelos técnicos de ATER do Movimento de Organização Comunitária (MOC), Aline Santana e Ronaldo Queiroz, os agricultores e agricultoras ouviam atentos sobre as ações de planejamento, organização e comercialização do grupo de produção e não se intimidavam em questionar, opinar e trocar saberes.

Em seguida foi a vez do casal Pedro Celvson e Josefa Lima que lhes demonstrou a utilização de alternativas de irrigação, técnicas de gotejamento, cobertura do solo e horta verão, dentre outras, aplicadas ali em sua propriedade localizada na comunidade de Barreiros. "Como tá tudo verdinho! E olha que a chuva por aqui ainda não chegou com vontade", ouvia-se de todos os lados e repetidamente enquanto findava o primeiro dia do intercâmbio.

O dia amanhece e logo o ônibus traz os agricultores (as) para o segundo e último dia do intercâmbio. O destino é a comunidade Boa União, para conhecer a horta orgânica e a Casa do Sertão, residência e espaço cultural de propriedade do seu Celso Avelino e sua família. Alunos do 1° ao 3° anos da Escola Municipal Alto da Porteira ali já estavam conhecendo objetos antigos da cultura popular cuidadosamente arrumados por seu Celso, por sua esposa Maria Alzarira e sua filha Grazielle, todos também responsáveis pelos processos da horta – limpeza, adubagem, plantio, irrigação, colheita, até a comercialização das verduras e hortaliças na feira agroecológica de Barrocas.

Superação

A euforia da criançada não era muito diferente da do grupo ao visualizar a horta orgânica. Dona Maria de Lourdes, de Retirolândia, era uma das mais encantadas com o que acabara de ver. “Valeu a pena vir até aqui pra ver essa belezura. Como é que eles três conseguem dar conta de tanta coisa?”, questionava. Seu Plínio, de Riachão do Jacuípe, era um dos mais emocionados ao ouvir o relato de vida, sofrimento e de superação de seu Celso e sua família, narrado por ele mesmo. “Que história, que história!!”, repetia seu Plínio.
Graziele, Alzamira e Celso

Seu Celso há muitos anos, desanimado pela seca e falta de perspectiva de produção em sua propriedade de três tarefas, resolveu abandonar tudo e mudou-se para o centro urbano em busca de trabalho e melhoria de vida. Após seis meses adquiriu doenças e as dificuldades só aumentaram com o desemprego e três filhas e esposa para sustentar, morando numa favela num pequeno quartinho, que não tinha nem sanitário. Depois perdeu seu pai. “Para sobreviver comecei a vender muambas num carrinho de mão, mas não deu certo. Foi aí que depois de alguns anos decidi voltar. Minha mulher trouxe umas sementes de coentro que tinha comprado em Serrinha e nós plantamos ao lado da casa. Ficou bonito e fomos plantando mais, mais, e mais, e hoje vocês estão vendo aí quantos canteiros temos. Criei minhas três filhas aqui me ajudando, duas já casaram e Grazielle continua fazendo de tudo aqui com a mãe”, conta intercalando momentos de emoção até às lágrimas.

A história de Grazielle, uma bonita jovem de 18 anos, é um capítulo à parte, pois desde criança segue firme ao lado dos pais. Com a fragilidade da saúde de seu Celso, ela nunca deixou de ajudar na labuta do dia a dia. Cuida dos objetos da Casa do Sertão e anualmente promove eventos culturais. Ao lado da mãe também faz todo o trabalho pesado na horta orgânica: planta, irriga, limpa, combate pragas, colhe, comercializa, e não pensa em trocar o que faz por outra atividade. “Não quero deixar. Gosto do que faço ao lado dos meus pais. Isso aqui é a nossa vida, nossa história e tenho muito orgulho dela”, conta.

Com o mesmo sol que brilhou no primeiro dia, o grupo retorna para casa agora também com o brilho das histórias de vida dos sujeitos do campo que eles conheceram. São sujeitos de um Semiárido viável, feliz, rico de histórias de um povo bom, que ama a terra onde vive e aquilo que faz.

Maria José Esteves
Programa de Comunicação do MOC

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