quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O BOI DO ROSÁRIO

Tiago de Assis
Lá pelo fim da década de 40, um senhor da Pedra comprou um boi a Zuza do Rosário. Esse boi tornou-se famoso pela sua brabeza. Vendido, ele foi levado junto com a boiada para o curral do Limoeiro. Lá ele pulou fora da boiada e começou a história. Vaqueiro nenhum conseguia trazer aquele boi para o curral. Era um boi pé duro, do cor azulada. Depois de famoso, ficou conhecido como o Boi Azulzinho ou Boi do Rosário.

Sua fama foi se espalhando, chegando a juntar até 30 vaqueiros das fazendas e povoações vizinhas para pegar esse boi velhaco. Ele pulava cerca, invadia roças de plantação, pastos, capoeiras e caía na caatinga – abundante na época. Bastava o animal avistar um vaqueiro para sair em disparada e se embrenhar na caatinga. Ninguém o encontrava mais. Quando era avistado, ele se sumia como por um encanto; diziam até que ele estaria rezado. À noite rompia a cerca das roças e ia comer a plantação. Até que um dia, Cassimirinho do Tanque Novo viu o estrago que o bicho tinha feito à noite em sua roça e teve uma ideia. Descobriu o buraco na cerca por onde o animal passara e, caladinho, arranjou umas cordas de couro grossas e armou um laço. O boi passou o dia escondido e com fome, e à noite foi à roça de Cassimirinho em busca de alimento; ao meter a cabeça no buraco da cerca, o laço desarmou e ele ficou preso.

Pela manhã, o bicho velhaco estava lá preso no laço. A noticia da vitória de Cassimirinho sobre o boi encantado se espalhou. Não ficou vaqueiro na região e curiosos que não fossem ver o animal tão falado. Era um boizinho de poucas arroubas, mas que tinha ficado famoso em desafiar os melhores vaqueiros da região. O Azulzinho foi morto e comido pelos vaqueiros e curiosos, depois de sapecado na brasa.

Mas a fama do boi não ficou somente aí. Na Pedra ou em Barrocas, quando havia um freguês mau pagador, os donos de vendas e bodegas chamavam-no de “boi do Rosário”. Isto é, freguês velhaco.

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