quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Juiz Moro agora vai investigar Palocci, Vaccari, Dilma, Lula etc.

As investigações mais importantes voltaram para o juiz Sérgio Moro

Carlos Newton
Foram comoventes as tentativas do procurador-geral Rodrigo Janot e do ministro-relator Teori Zavascki para blindar a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, mas a sujeirada é tamanha que não dá mais para segurar, como dizia o compositor Gonzaguinha. Agora, é só uma questão de tempo, porque a Justiça brasileira transita por caminhos tortuosos e surpreendentes.

Ao contrário do que se pensa, os processos mais importantes da Operação Lava Jato não serão os que tramitam em foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (parlamentares federais) e no Superior Tribunal de Justiça (governadores). As ações principais serão exatamente as que estão sendo devolvidas pelo Supremo para a Justiça Federal de primeira instância em Curitiba.

Alguns indiciados da maior importância, como o tesoureiro petista João Vacarri Neto, o ex-ministro Antônio Palocci, o lobista Fernando Soares, o doleiro Alberto Youssef, os executivos e diretores de empreiteiras e muitos outros, não têm foro privilegiado. Portanto, serão investigados e julgados pelo juiz federal Sérgio Moro na mesma 13ª Vara Federal de Curitiba, onde tudo começou, não existe blindagem política e a verdade dos autos poderá prevalecer.

CESSAR-FOGO TEMPORÁRIO

O fato é que o procurador-geral da República Rodrigo Janot conseguiu um cessar-fogo temporário para Dilma Rousseff, sob o cínico argumento de que não se poderia investigá-la por “atos estranhos ao exercício de sua função” de presidente da República. O ministro Teori Zavascki, é claro, rapidamente concordou com essa criativa interpretação jurídica e colocou Dilma Rousseff sob a proteção de sua toga ministerial.

Mas tudo tem limite. Nem Janot nem Zavascki conseguiram evitar que prosseguissem as investigações sobre a arrecadação de recursos para a campanha presidencial do PT, tendo como base a atuação do ex-ministro Antonio Palocci, que coordenou a campanha de Dilma com apoio do tesoureiro João Vaccari Neto, que se encarregava pessoalmente de arrecadar as propinas, digo, doações.

Zavascki teve o cuidado de não determinar expressamente a abertura de um inquérito, para que a investigação da campanha possa ocorrer inicialmente em um procedimento preliminar. Este pedido para apurar a atuação de Palloci já foi remetido para Curitiba e o juiz Moro vai dar prosseguimento aos trabalhos, com apoio da força-tarefa do Ministério Público e da Polícia Federal. Vai ser uma festa.

DILMA CITADA VÁRIAS VEZES

Como se sabe, o nome de Dilma Rousseff foi citado em depoimento do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Na delação premiada, ele contou que foi procurado pelo doleiro Alberto Youssef em 2010. Na ocasião, Youssef disse-lhe ter recebido um pedido de Palocci para que fossem doados à campanha de Dilma R$ 2 milhões do caixa do PP, abastecido com recursos desviados da Petrobras.

Costa admitiu ter autorizado a contribuição e relatou que, posteriormente, Youssef confirmou que repassou a quantia solicitada.

O doleiro, porém, desmentiu Costa num detalhe, negando que Palocci tivesse pleiteado a doação. Youssef declarou “categoricamente que esta afirmação (feita por Costa) não é verdadeira”. Mas esta contradição pode ser facilmente desfeita, porque Costa, ao depor, não esclareceu se o pedido foi feito diretamente por Palocci, Vaccari ou outro dirigente petista.

O PLANALTO SABIA…

Houve outra citação de Dilma, que o próprio procurador Janot registrou num ofício a Zavascki, em 16 de dezembro, ao mencionar que o doleiro Alberto Youssef disse que o “Palácio do Planalto” sabia de “determinados fatos” sob investigação na Operação Lava Jato. O procurador acrescentou que, ao ser indagado sobre quem seria o “Palácio do Planalto”, Youssef citou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff e seis ex-ministros do governo Lula (Gilberto Carvalho, Ideli Salvatti, Gleisi Hoffmann, Antonio Palocci, José Dirceu e Edison Lobão).

Surpreendentemente, o procurador-geral concluiu que a referência a essas pessoas não poderia gerar “automaticamente providência de investigação direta”, pois quanto a eles “não há nenhuma indicação sequer de um dado que permita essa conclusão” de que eles sabiam realmente do esquema na Petrobras. E o ministro Teori Zavascki logo embarcou nessa canoa, que o juiz Sérgio Moro em breve nos dirá se está furada ou não.


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