domingo, 27 de março de 2011

BARROCAS E O SISAL

Planta do sisal

A história de Barrocas e seu desenvolvimento inicial estão ligados à estrada de ferro. Mas, ao lado do feijão, milho e mandioca, estão ligados também ao sisal. Revendo a biografia dos políticos de Barrocas e das pessoas mais de destaques no município, todas elas lidaram com o sisal, seja cultivando, beneficiando ou comercializando o produto. Essa planta teve um grande papel no desenvolvimento econômico do atual município. “O sisal é originário da península de Yukatan, no México. No Brasil, o sisal começou a ser cultivado em 1903, na Paraíba... Na região sisaleira, situada no nordeste da Bahia, a planta do sisal chegou em 1910, no município de Santa Luz”. (Conf.: http://www.moc.org.br/noticias_exibir.php?mostrar=50)



João Olegário


Em Barrocas o sisal chegou na segunda metade da década de 40. João Olegário de Queiroz (Joãozinho de Sinfrônio) trouxe mudas da planta da vizinha cidade de Santa Luz – Bahia em um vagão da estrada de ferro para serem doadas ao povo com o objetivo de incrementar esta nova cultura na região. Ele fomentou o plantio do sisal na região de Barrocas; também foi o pioneiro no desfibramento da folha da planta usando um motor movido a óleo a diesel. No início, as pessoas, sem conhecerem bem o potencial econômico que seria o sisal na região, começaram a plantar ao pé das cercas mais fracas das roças para reforçá-las, impedindo a passagem de animais. Ainda bem criança, lembro-me que meu tio Agostinho Pimentel pegou umas sobras das mudas de sisal trazidas por João Olegário para Barrocas e levou para a fazenda Fortuna de seu pai Pedro Pimentel de Oliveira (Pedro da Fortuna). Esse senhor plantou parte das mudas ao pé das cercas e seu filho Agostinho plantou a outra parte em meio quarto de terra. Quando começaram a explorar economicamente o sisal na região, Pedro da Fortuna e outros que utilizaram a planta como reforço das cercas, começaram a ganhar dinheiro com o beneficiamento. Os mais ambiciosos (no bom sentido) começaram a plantar o sisal em suas terras não destinadas ao plantio das culturas tradicionais e ao capim. No início, o desfibramento do sisal era muito primitivo por meio de instrumentos simples chamados de "farrachos" e eram os próprios produtores que beneficiavam com a mão-de-obra familiar. Depois vieram os motores e os atravessadores que compravam todo o sisal ainda na folha ou beneficiavam pagando uma quantia pequena pelo quilo da fibra. Nos anos de pouca lavoura de milho e feijão, o sisal era o “refrigério” dos mais pobres. Nos dias de feira, e também durante a semana, era comum ver as pessoas trazendo seus pequenos fardos de fibra de sisal para venderem nos armazéns e terem seu dinheirinho para comprar os mantimentos.


Cena comum na região Em Barrocas, os primeiros compradores da fibra do sisal foram João Olegário e Joaquim Otaviano. João Olegário foi também o primeiro dono de motor de sisal e o primeiro de Barrocas a comprar um caminhão para o transporte do produto. O cultivo do sisal ainda continua sendo uma fonte importante de renda da região, mas os produtores estão desanimados por falta de incentivo dos governos. Andando pelo interior do município, vemos muitos campos de sisal abandonados; outros se tornaram capoeiras, vendo-se pelo mio do mato um ou outro pé da planta. Em uma região como a de Barroca, castigada pelas estiagens prolongadas, a produção do sisal é ainda um dos meios econômicos mais fortes. Portanto, não podemos deixar morrer essa tradição do cultivo e do beneficiamento desse produto agrícola, marca registrada de nossa região.

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