quinta-feira, 23 de setembro de 2010

AS REZADEIRAS E REZADORES

Curandeiro
Relembrando nossa Barrocas desde o início de sua fundação, não podemos esquecer os usos e costumes de nossa gente: o folclore, as crendices e outras manifestações.
Barrocas, como outros povoados perdidos em nosso sertão, sofria com a falta de assistência médica. Sem postos de saúde, sem maternidades, a população se virava como podia. Como não parava de nascer crianças e como as doenças estavam sempre presentes, parteiras e rezadeiras tinham grande influência e prestavam muito serviço á população.
As parteiras gozavam de muita consideração e estima na comunidade: eram elas que “pegavam” as crianças, ajudando-as a virem ao mundo. As rezadeiras ou rezadores e curandeiras ou curadores, benzendo com seus ramos verdes e orações especiais, “curavam” de várias doenças e males. No entender de muitas pessoas, havia doenças que não se curavam com remédios, mas só com “rezas”:
Mau olhado ou quebranto: - Rezavam com três ramos de vassourinha ou qualquer ramo verde. Se os ramos murchassem e a rezadeira começasse a bocejar, era sinal que a criança ou o adulto estava de olhado (o olhado dá mais em criança). Então começava o ritual da reza: enquanto fazia-se o sinal da cruz com os ramos sobre a pessoa, ia dizendo: Filha, (diz o nome), Deus te gerou e Deus te criou. Deus é quem te livra do mau olho que te olhou e do que tá pra te olhar. Com dois te botaram, com três eu te tiro, com o poder de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Amém.
Sintomas do mau olhado: No adulto dá sono, abrição de boca; fica mole. A criança fica com os olhos parados e fundos; fica descorada e mole. “O mau olhado vem da pessoa que tem olho ruim”, diziam. Se alguém achar uma criança muito bonita, esperta, deve dizer pra não botar olhado: “Benza-te Deus”.
Espinhela caída ou peito aberto - Primeiro ato era verificar com um cordão se a espinhela estava caída: Esticava o cordão de um dedo polegar da mão esquerda até o polegar da mão direita; dobrava-se o cordão ao meio e media-se o tórax do paciente. Se as pontas dos cordões ultrapassassem, o paciente não tinha espinhela caída. Se ficasse um espaço ente as duas pontas, o sujeito estava mesmo com a espinhela caída ou com o peito aberto. Começava o ritual: Amarrava-se um pano branco no tórax da pessoa e começava o ritual da reza, dizendo estas palavras: Deus quando andou no mundo em sua barquinha sem virar, levantando “arca”, espinhela, “vento caído”. Arca, vento caído, procura seu lugar, pelos poderes de Deus.
Sintomas da espinhela caída: dor nas costas, na boca do estômago e nas pernas e cansaço.

Dor de cabeça, enxaqueca (“Sol e sereno”): Colocava-se uma toalha branca dobrada sobre a cabeça do doente, uma garrafa branca cheia de água era emborcada sobre a toalha. Se subissem bolhinhas de água dentro da garrafa, era sinal de que a pessoa estaria de “sol e sereno”. Começava a reza em silêncio.
Erisipela (izipa ou mal de monte ) Na opinião das rezadeiras, a erisipela “vem de qualquer machucadura que inflamou, ficou vermelha, inchou e doi muito; a pessoa sente febre no local”. Cura-se na rezadeira. Oração para curá-la: Erisipela deu em Roma, de Roma deu aqui; daqui ela deu no “tutano”, deu na carne, da carne deu na pele, da pele deu em Roma, de Roma deu na cruz do meu Senhor Jesus, da cruz foi pro mar com os poderes de Deus e da Virgem Maria, pra nunca mais voltar”.
As rezadeiras e os rezadores sabiam uma infinidade de rezas para vários fins:
Para curar de cobreiro, de fogo-selvagem, “engasgação”, contra mordidura de cobras, para afastar as cobras do caminho ao andar pelo mato, para tirar cisco do olho, para amançar um boi ou um burro bravos, achar uma rês perdida, para curar bicheira dos animais, para estancar sangue, para afastar chuvas fortes, tovões e tempestades e tantas outras.

O “Responso” de Santo Antônio
Ao perderem um objeto, ao desaparecimento de algum animal, as pessoas corriam aos rezadores do Responsório de Santo Antônio (responso) para encontrar o objeto ou aminal desaparecido. Rezava-se e ficava-se esperando a resposta do resador, que prometia sonhor desvendando onde achar o perdido.
Os tempos passaram. O acesso à escola ficou mais fácil. Estamos da era da informação na escola, pelo rádio, pela TV e pela internet. Estamos numa época em que tudo evolui, mas acredito que informática, infelizmente as crendices estão soltas por aí, como também a ignorância religiosa, não obstante o proliferar das igrejas.
Respeitando as manifestações folclóricas, populares, o formador de opinião tem uma tarefa bem importante pela frente: manter as pessoas bem informadas, apontar caminhos do saber, despertar o senso crítico e o compromisso na busca da verdade e o direito á cidadania.

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