CERVERÓ DISSE TER ASSUMIDO O CARGO COMO "PRÊMIO" DE LULA |
EM DEPOIMENTO, CEVERÓ IMPLICA TAMBÉM RENAN, DELCÍDIO E COLLOR
Publicado: 12 de janeiro de 2016 às 08:40
A nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria Financeira e de Serviços da BR Distribuidora foi um “ato de gratidão” do então presidente Lula, segundo revelou o próprio beneficiado em depoimento sob acordo de delação premiada na Operação Lava Jato. Segundo ele, foi o próprio Lula quem decidiu nomeá-lo para a BR Distribuidora, desmentindo afirmações anteriores do ex-presidente.
Cerveró diz que o cargo foi um prêmio por sua “ajuda” ao Grupo Schain a vencer uma licitação para o aluguel de um navio sonda para a Petrobras. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o contrato foi firmado para o pagamento do empréstimo de R$ 12 milhões do Grupo Schain ao Partido dos Trabalhadores, intermediado pelo empresário José Carlos Bumlai, amigo íntimo e “operador” do ex-presidente.
O negócio rendeu à Schain mais de R$ 1 bilhão. Ao ser preso, Bumlai confirmou a fraude, mas tentou proteger o amigo Lula.
Cerveró disse que conseguiu continuar na estrutura da Petrobras graças à intermediação desse negócio.
Ainda de acordo com o ex-diretor, coube a Lula garantir que o senador Fernando Collor (PTB-AL) tivesse acesso político à estrutura da BR Distribuidora, com a indicação de nomes para ocuparem cargos na empresa.
O ex-diretor também afirmou que, entre 2010 e 2013, participou de várias reuniões com políticos para tratar de propinas desviadas da Petrobras. Entre os nomes que citou estão o também senador Delcídio do Amaral (PT-MS), preso no ano passado, acusado de obstrução da Justiça, e o deputado federal Cândido Vacarezza (PT-SP), além do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Nessas reuniões, disse Cerveró, eram discutidas as atribuições de diretores da BR Distritibuidora para a angariação e distribuição das quantias junto às empresas que prestavam serviços para a empresa.
Cerveró também contou sobre uma reunião com o senador Renan Calheiros. Na ocasião, em 2012, o parlamentar teria reclamado por não receber repasses. O ex-diretor da empresa disse que não estava arrecadando propina e que não tinha como ajudar. Segundo ele, o senador ameaçou tirar o apoio político que o ajudava a manter o cargo.
Nestor Cerveró, também disse à Procuradoria-Geral da República (PGR), antes de fechar o acordo de delação premiada, que a venda da petrolífera Pérez Companc envolveu pagamento de propinas no valor de US$ 100 milhões a integrantes do governo FHC.
Os dados constam de documento apreendido no gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado. O papel apreendido é parte do resumo das informações que Cerveró prestou à Procuradoria-Geral da República antes de fechar seu acordo de delação premiada. O documento foi apreendido quando Delcídio foi preso, acusado de tramar contra a Lava a Jato. O senador, que continua detido em Brasília, temia a delação de Cerveró.
No documento, Cerveró cita o nome Oscar Vicente, que seria ligado ao ex-presidente argentino Carlos Menem (1989-1999). “A venda da Pérez Companc envolveu propina ao governo FHC de US$ 100 milhões, conforme informações dos diretores da Pérez Companc e de Oscar Vicente, principal operador de Menem e, nos primeiros anos de nossa gestão, permaneceu como diretor da Petrobras na Argentina”, relatou Cerveró.
Em outubro de 2002, a Petrobras comprou 58,62% das ações da Pérez Companc e 47,1% da Fundação Pérez Companc. Na época, a Pecom, como é conhecida, era a maior empresa petrolífera independente da América Latina. A Petrobras, então sob comando de Francisco Gros, pagou US$ 1,027 bilhão (R$ 4,52 bi) pela Pérez Companc.
“Cada diretor da Pérez Companc recebeu US$ 1 milhão (R$ 4,05 milhões) como prêmio pela venda da empresa, e Oscar Vicente, US$ 6 milhões (R$ 24,3 milhões). Nós juntamos a Pérez Companc com a Petrobras Argentina e criamos a PESA (Petrobras Energia S/A) na Argentina”, disse Cerveró, que já tem duas condenações na Operação Lava a Jato.
Fernando Henrique saiu em defesa do ex-presidente da Petrobras: “Francisco Gros era de reputação ilibada e sem qualquer ligação político-partidária.” FHC afirma que declarações “vagas como essa, que se referem genericamente a um período no qual eu era presidente e a um ex-presidente da Petrobras já falecido (Francisco Gros), sem especificar pessoas envolvidas, servem só para confundir e não trazem elementos que permitam verificação”.
Sobre as acusações de Cerveró sobre a BR Distribuidora, o Instituto Lula afirmou que não comenta "vazamentos ilegais, seletivos e parciais de supostas alegações que alimentam o mercado de delações sem provas em troca de benefícios penais".
(Com informações da Agência Estado)
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