quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Encontro de Dilma com presidente acusado de corrupção vira piada entre jornalistas finlandeses

Pontos em comum entre campanhas suspeitas de Dilma
e Niinistö geraram piadas na imprensa finlandesa
Luís Guilherme Barrucho
Enviado especial da BBC Brasil à Suécia e à Finlândia
À primeira vista, as biografias de Dilma Rousseff e de seu colega finlandês, Sauli Niinistö, não convergem: de esquerda, ela participou da resistência à ditadura militar; de direita, ele abandonou o escritório de advocacia que comandava para entrar na política e acabou eleito com o apoio do empresariado do país.

Mas há um ponto em comum no passado recente dos dois líderes que virou motivo de piada entre jornalistas finlandeses: as campanhas de ambos à Presidência são suspeitas de terem sido irrigadas com dinheiro de fontes irregulares.

Dilma e Niinistö tiveram uma reunião privada nesta terça-feira em Helsinque, na Finlândia, e, em seguida, fizeram um pronunciamento à imprensa. A presidente está em visita oficial à Finlândia depois de passar pela Suécia. Ela chega ao Brasil na manhã de quarta-feira.

"A imprensa finlandesa brincou que Niinistö ganharia imediatamente a simpatia de Dilma", afirmou uma jornalista finlandesa à BBC Brasil. O escândalo envolvendo o presidente finlandês dominou o noticiário local desta terça-feira após a revelação de novas denúncias contra ele no principal programa de TV do país, exibido na noite de segunda-feira.

A campanha de Niinistö é acusada de ter se beneficiado de doações não identificadas de empresários durante a corrida presidencial de 2006. Ele acabou derrotado no pleito.

O esquema teria voltado a acontecer nas eleições parlamentares do ano seguinte, abastecendo as campanhas dos principais partidos de centro-direita da Finlândia, inclusive o de Niinistö, o Partido de Coalizão Nacional.

Segundo as denúncias, grandes empresas doavam a organizações sociais criadas pelos próprios partidos que, por sua vez, encaminhavam o dinheiro em forma de doação às campanhas. O objetivo era manter o sigilo dos doadores, que depois cobravam favores dos parlamentares eleitos. O esquema teria movimentado cerca de 500 mil euros na época (R$ 2,2 milhões em valores atualizados) e provocou uma mudança na lei de financiamento de campanha na Finlândia, tornando-o mais rígido. As novas regras estipulam que as doações têm de ser declaradas e apenas aquelas abaixo de 1,5 mil euros podem permanecer anônimas.

A triangulação guarda semelhanças com o suposto esquema que teria sido usado pelo PT durante a última campanha de Dilma à Presidência, segundo denúncia em delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, em depoimento durante as investigações da operação Lava Jato. O partido, no entanto, tem afirmado que as contribuições recebidas são "todas legais e declaradas ao TSE". 

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'Quebra de confiança'

Segundo jornalistas locais, o escândalo chocou a sociedade finlandesa, conhecida mundialmente pelo alto nível de confiança nas instituições. "O finlandês não está acostumado a escândalos de corrupção. Há um ambiente de confiança mútua", afirmaram. "Em alguns meios de transportes públicos, por exemplo, não há catracas e, mesmo sem fiscalização, todo mundo paga passagem. Isso (o escândalo) de certa forma chocou porque quebrou essa relação de confiança", acrescentaram.



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