Antiga Praça s. João Batista e a capela do padroeiro. |
A cidade de Barrocas está situada na região do Semi-Árido (caatinga) do estado da Bahia.
Fica a 255 km da Capital pela antiga estrada de ferro Viação Férrea Federal Leste Brasileiro que liga Salvador a Juazeiro, hoje privatizada com o nome de Estrada de Ferro Centro Atlântica.
Esta terra acolhedora e tão querida por seus filhos nativos e pelos que aqui chegaram, viveram, ajudaram a crescer e a prosperar, tem suas origens na estrada de ferro.
À ferrovia ela deve não só o seu nascimento, mas seu crescimento e progresso. Seus filhos, desde o nascimento, eram embalados, acordados e acalentados pelo apito saudoso das locomotivas a vapor, carinhosamente apelidadas de “maria-fumaça”.
Quando o sino da estação badalava anunciando a partida de um trem da estação vizinha, a população se alegrava.
Era o anúncio de que, talvez, um parente, um amigo, um namorado viessem chegando no trem de passageiro.
O trem trazia também notícias da Capital do Estado, do Brasil e do mundo, através do jornal “A Tarde” ou da revista “O Cruzeiro”.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1942-1945), jornais e revistas, vindos de trem, traziam notícias da guerra.
Diga-se com orgulho que lá na Itália, também um brasileiro, filho de Barrocas, servia à Pátria dando força às tropas aliadas.
Antiga locomotiva a vapor |
O apito do trem era sinal de que em breve os potes, porrões e dornas vazias seriam abastecidos de água para beber, cozinhar e lavar o rosto e os pés (banho com água do trem era luxo, tendo em vista a sua escassez). Homens, mulheres, jovens e até crianças corriam para a estação com latas e baldes, na certeza de que um maquinista amigo abriria a torneiras do tênder da maria-fumaça para encher suas vasilhas. De outras vezes, o trem trazia um vagão-tanque e deixava-o no desvio para o povo tirar água.
O trem-de-carga levava para a capital e para outras cidades os produtos da terra e trazia mercadoria para abastecer os armazéns, vendas e bodegas.
Os trens de passageiro transportavam as pessoas a negócio ou a passeio. Neles, durante as férias, adolescentes, jovens nativos que estudavam ou tinham ido morar na Capital - em outras cidades também - vinham passar dias com os avós, com os tios; rever os parentes e encontrar os primos e primas. Quantos namoros (alguns deram em casamento) começaram entre os primos no varandado da casa do vovô, nos caminhos e veredas das fazendas, das roças e até debaixo dos umbuzeiros floridos ou com o chão lastrados de umbus madurinhos e doces.
Os jovens e as jovens suspiravam pelo encontro com os primos ou primas, chegando para as férias.
Quanta alegria! Quanta festinha era improvisada ao som do toca-discos a bateria ou de uma radiola!
Ao badalar do sino da estação anunciando achegada do trem de passageiro, as moças corriam para a estação para ver a chegada ou passagem de algum rapaz, um futuro namorado e um marido, talvez.
O trem apontava para as bandas do Barracamento Velho ou do tanque do Sítio Novo; o guarda-chave estava de prontidão na agulha com a bandeira verde indicando linha livre.
Mães de família pobres vinham à estação vender aos passageiros doces, arroz-doce, café, galinha assada; jovens e crianças vendiam pães em cestos, bolachões, biscoitos e água em moringas de barro - água barrenta, de tanque ou tirada do trem anterior, mas que matava a sede e refrescava.
Antiga estação ferroviária de Barrocas comprada pela Prefeitura Municipal de Barrocas e transformada em Centro Cultural de Informática |
Em poucos minutos, o agente, vestido de brim cáqui, botões dourados e quepe na cabeça, sacudia a campainha de bronze, liberando o trem; o chefe-de-trem levava o apito à boca e produzia dois silvos longo e agudos, avisando ao maquinista que podia arrastar o trem; o maquinista, levando a mão à corda do apito da locomotiva a vapor, fazia ressoar dois longos apitos que faziam eco na “baixa de seu Sinfrônio”; depois com um braço forte, ele puxava o regulador da locomotiva e o trem de passageiro, qual serpente azul, começava a mover-se lenta e gradativamente, ia aumentando a velocidade, soltando baforadas de fumaça de vapor pelos ares até sumir nas imediações do tanque do Sítio Novo, se ia em destino à Capital ou do Barracamento Velho; se ia para o interior - chegava até Senhor do Bonfim; lá os passageiros faziam a baldeação para Juazeiro ou Jacobina, pela Linha da Grota. O barulho do vapor que escapava dos cilindros da locomotiva e o atrito das rodas nos trilhos parecia dizer: Café com pão, bolacha não, café com pão, bolacha, não...
Para os barroquenses de hoje, esse relato serve apenas como informações históricas e até folclóricas, mas para os remanescentes que viveram naquela época, é um lindo sonho da aurora de suas vidas guardado na lembrança.
Doce lembrança.
Que volte o trem!
Barrocas nasceu com a estrada de ferro; é filha do trem; do trem que a fez nascer, crescer e prosperar. Hoje, os que viveram naquela época não podem lembrar-se de Barrocas sem a recordação do trem.
Doce lembrança.
Que volte o trem!
Barrocas nasceu com a estrada de ferro; é filha do trem; do trem que a fez nascer, crescer e prosperar. Hoje, os que viveram naquela época não podem lembrar-se de Barrocas sem a recordação do trem.
Fonte: BARROCAS, UMA FILHA DA ESTRADA DE FERRO - João Gonçalves Pereira Neto e Tiago de Assis Batista
Autores do livro no dia do lançamento |
Postado por Barrocas no Ar
Nenhum comentário:
Postar um comentário