sábado, 30 de janeiro de 2016

Agricultores barroquenses encontram dificuldades no plantio da mandioca: "Tá faltando manaíba na região".

Foto: Reprodução
Segundo agricultores consultados pelo JANV, diante das constantes chuvas, a região vive o momento ideal para semear o solo; com o clima propício, dá para plantar de tudo, mas, especialmente, "o feijão de corda e a mandioca", como destacou a senhora Nilza, moradora da região de Nova Brasília.
Secretária Maria Lucenir
Porém, os agricultores têm enfrentado dificuldade para encontrar a manaíba, que é uma parte do caule da mandioca adulta. Manaíba ou manivas - São pedaços de caule de plantas adultas saudáveis, com 15 a 25 cm de comprimento e cerca de 2,5 cm de diâmetro. As manivas são colocadas em sulcos ou covas de 5 a 10 cm de profundidade.

Segundo a secretária de Agricultura Maria Lucenir, em outras ocasiões a manaíba vinda da cidade de Santo Antônio de Jesus, distante 202 quilômetros de Barrocas, adquirida em parceria com a Prefeitura Municipal de Barrocas, não adaptou-se ao clima e solo da região. "O que plantou não se desenvolveu". Para aproveitar o bom tempo e as chuvas, a Secretaria tem tentado adquirir a raiz em outras cidades da Região do Sisal; "caso alguma cidade como Serrinha, Teofilândia, Conceição do Coité,  etc. tiverem a manaíba, podemos trazer para plantar em Barrocas".

Cerealista Gelson da Farinha
Para o cerealista Gelson da Farinha, a cultura de produzir a própria farinha da mandioca está prestes a ser extinta na cidade. "Diante da ausência de mão de obra, tempo de espera e produção com baixo retorno financeiro, as famílias preferem comprar pronta", afirma o Gelson da Farinha. Sobre a manaíba deixou claro que a procura existe agora por um número 'razoável' de pessoas. 

Um dos derivados da mandioca, a farinha de mandioca, em estabelecimentos comerciais barroquenses variam de preço; o litro custa de R$ 1,50 a R$ 3,50 reais do produto trazido da cidade de Crisópolis-BA. Na feira-livre, às sextas e aos sábados, é fácil encontrar a goma, bolo de aipim e a bolacha de goma.
Poucas casas de farinhas comunitárias são vistas em funcionamento atualmente no município. A tradição vem perdendo forças, quando antigamente dezenas de mulheres em grupo passavam dias raspando, coando e preparando a goma para o beiju e diversos derivado da mandioca, dedicação que gerava emprego e renda nos povoados.
Foto: Arquivo
Conheça o inventor barroquense que resolveu o problema da falta de mão de obra na produção da farinha de mandioca. Veja aqui! Conheça a comunidade que conseguiu um curso para ensinar a trabalhar com os derivados da mandioca. Veja Aqui!

@ Nossa Voz da Redação - Victor Santos e Rubenilson Nogueira

Fonte: http://www.jornalanossavoz.com.br/

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

MISSA DO VAQUEIRO DE SERRITA, PERNAMBUCO – OS PRIMEIROS ANOS

Tradição, Religiosidade e Cultura Nordestina
AUTOR – ROSTAND MEDEIROS
A missa do vaqueiro, realizada no município de Serrita, a 536 km do Recife, surgiu em 1971, como uma homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó, sendo considerada atualmente uma das maiores e mais importantes festas do sertão nordestino.
Esse evento atrai anualmente cerca de 50 mil visitantes e é promovido pela Fundação João Câncio, em parceria com a Prefeitura Municipal de Serrita e a Associação de Vaqueiros de Pega de Boi na Caatinga do Alto Sertão de Pernambuco (Apega).
Vamos conhecer um pouco de sua história.
A Morte de Raimundo Jacó
Em 1954 o município pernambucano de Serrita, no Sertão do Araripe, próximo a cidade de Salgueiro, era bem maior em termos de área territorial e possuía uma população estimada em quase 23.000 habitantes. Mas em um Nordeste ainda prioritariamente agrário, na sede municipal daqueles tempos não viviam nem sequer 700 pessoas[1].


Vaqueiro do Nordeste, 1941, Percy Lau – Fonte –http://www.desenhandoobrasil.com.br

meio à caatinga fechada daquela região, à vegetação cortante e espinhenta que caracteriza este ecossistema, o vaqueiro encourado Raimundo Jacó se destacava na sua lide.
Conhecido pela sua dedicação ao trabalho era muito estimado pela população local. Ficou afamado pela coragem ao capturar, ou “pegar”, o boi no meio dos matos. Ele também era conhecido por saber no meio da caatinga fechada, onde descansava e bebia cada um dos animais que ele tomava conta.
De tão destemido, o vaqueiro tinha o apelido de “Raimundo Doido”. Era casado com Odília de Jesus e tinha como filhos Francisca e Vicente. Em Rancharia, atualmente distrito do município de Granito, era admirado pelo seu aboio afinado, daqueles vibrantes, cantado “com o dedo no ouvido” [2].
Sobre o vaqueiro Raimundo Jacó, os irmãos cantadores Pedro e João Bandeira de Caldas assim cantaram a sua fama;
“Não respeitava favela
Serra, facheiro, cipó
Sua calça era a perneira
Seu gibão o paletó
Fosse a cavalo ou a pé
Era uma coisa só” [3]
Raimundo Jacó trabalhava como vaqueiro para o fazendeiro José de Sá Barreto, conhecido como Seu “São” e Dona Tereza Teles, a Dona “Tetê”. Consta que ele cuidava do gado do patrão e seu colega de profissão, José Miguel Lopes era o responsável pelo plantel da patroa.
No dia 8 de julho de 1954, ano seco, os dois vaqueiros saíram pelo sertão em busca de uma rês arisca, já famosa pelas suas astúcias animais e que havia fugido.
Mas no fim do dia apenas Miguel retornou a sede da fazenda.
Contou que não havia encontrado Raimundo Jacó e a notícia se espalhou. Logo várias pessoas rasgavam a caatinga na busca pelo afamado vaqueiro.
Dois dias após seu desaparecimento, o cadáver de Jacó foi encontrado junto a um pé de Imbaúba, em um lugar conhecido como sítio Lajes. A pouca distância do corpo estava amarrado o garrote fugitivo, o seu cavalo e, guardando dos urubus, estava o fiel cachorro.
No crânio do vaqueiro havia duas marcas de ferimentos e não muito distante do seu corpo, uma pedra com sangue. Todo o cenário apontava para um possível assassinato[4].
Consta que Raimundo Jacó foi sepultado no local onde fora assassinado. Afirma-se que o seu fiel cachorro acompanhou todo o trajeto do enterro e que depois ficou no local, até morrer de sede e de fome, guardando o túmulo do seu amo.
O Nascimento de Um Mito
Logo, para a opinião pública e para a justiça local, Miguel Lopes surgiu como o mais provável suspeito da morte de Raimundo Jacó. Afirmavam que Miguel invejava o colega de profissão por suas habilidades como vaqueiro e que entre ambos havia uma rixa muito forte.
Para muitos o assassinato teria acontecido quando Miguel chegou às margens do açude do sítio Lajes e se deparou com Raimundo Jacó fumando tranquilamente um cigarrinho. Junto estava o seu cavalo, seu cachorro e a rês fugitiva, já devidamente amarrada. A cena deixou Miguel bastante alterado. Logo o ódio, motivado pela inveja, aflorou e de posse de uma pedra ele bateu fortemente na cabeça de Jacó.
Foi aberto um processo crime contra Miguel Lopes, que afirmava ser inocente e houve controvérsias e discursões em relação à morte de Jacó.
O Promotor Público da cidade, Clarisbalte Figueiredo Sampaio desistiu do processo contra Miguel Lopes. No calhamaço de papeis que compunha a peça processual havia declarações de cinco testemunhas, que nem mesmo assistiram o episódio da morte do vaqueiro.
Logo o processo foi arquivado por falta de provas e a morte de Raimundo Jacó até hoje não foi esclarecida.
Ocorre que desde 1949, os Alencar e os Sampaios, as duas mais poderosas famílias da cidade de Exu, mantinham uma luta fraticida entre seus membros. Estas famílias, como se diz na região oeste do Rio grande do Norte, “se acabavam na bala”. Miguel era então ligado a um dos clãs e para muitos na região, foi através desta ligação que ele não foi preso[5].
Vinte e dois anos depois da morte do vaqueiro, encontramos em um jornal pernambucano uma interessante e controversa declaração de Geraldo Teles, filho de Tereza Teles, a Dona “Tetê”, patroa de Raimundo Jacó e Miguel Lopes. Ele afirmou que a morte de Jacó poderia ter sido acidental, pois este “sofria do coração e bebia muito” e afirmava que Miguel, que ainda estava vivo na época da reportagem, seria “incapaz de fazer mal a alguém”. Geraldo Teles levantou a hipótese que Jacó poderia ter tido um colapso. Após o ataque, consequentemente o vaqueiro teria caído do cavalo, batido a cabeça na pedra e falecido sem assistência médica[6].
Mas se da justiça não teve castigo, de uma parte da população da região, o acusado da morte de Jacó só recebeu ódio e desprezo[7].
Em pouco tempo a notícia de sua trágica morte, a fidelidade do seu cão e do que ocorreu com seu suposto assassino, se espalhou em várias áreas do sertão.
Como ocorre em muitos locais do Nordeste, onde pessoas assassinadas em mortes trágicas eram enterradas, logo a cruz que marcava o túmulo de Raimundo Jacó passou a receber fitas, velas e pessoas, principalmente vaqueiros. Ao passarem pelo local, estes paravam, rezavam e pediam ao falecido que intercedesse por alguma causa.
Mas foi um primo legítimo do falecido, que empunhava uma sanfona e fazia sucesso no Rio de Janeiro, então a capital do país, que imortalizaria para sempre a figura de Raimundo Jacó em uma inesquecível canção.
A Morte do Vaqueiro na Voz de Luiz Gonzaga
Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu na fazenda Caiçara, em 13 de dezembro, dia consagrado no catolicismo a Santa Luzia, no ano de 1912. Era filho de Januário José dos Santos e de Ana Batista de Jesus, mais conhecida como Santana. Além de agricultor, seu pai era um afamado tocador de acordeão e igualmente conhecido por concertar este tipo de instrumento musical.




Luiz Gonzaga no início da carreira – Fonte –http://blogln.ning.com

Foi com Januário que Luiz Gonzaga aprendeu a tocar ainda criança e passou a se apresentar acompanhando seu pai.
Em meio a muito talento, grande capacidade musical, inúmeras peripécias, aventuras e sorte, em 1963 nós vamos encontrar Luiz Gonzaga como um consagrado músico e cantor, com seu sucesso alcançando todo o Brasil e tendo se tornado um verdadeiro ícone da música nordestina.
Apesar de 1963 não ser um dos períodos mais felizes na carreira de Luiz Gonzaga, devido à concorrência com a Jovem Guarda e os rock vindos do exterior, naquele ano o músico pernambucano lançou pela empresa fonográfica RCA, o Long Play, ou “LP”, intitulado “Pisa no Pilão – Festa do Milho”.
Este disco de vinil tinha um acervo musical mais apropriada para ser tocado em festas juninas, pois possuía músicas intituladas “Festa do Milho”, “Festa de São João” e “Pisa no Pilão”.
Mas a quarta faixa do lado “A” do LP trazia uma toada diferente. Nomeada “A Morte do Vaqueiro”, é uma música marcante e de longe a mais importante deste disco de Luiz Gonzaga.




LP onde foi primeiramente divulgado a música “A morte do vaqueiro” – Fonte – discotecapublica.blogspot.com.br

Nas páginas 229 e 230 do livro “A vida do viajante: A saga de Luiz Gonzaga”, da francesa Dominique Dreyfrus, a música foi composta em uma única tarde na casa de Nelson Barbalho, amigo de Gonzaga[8].
O famoso cantador do Sertão do Araripe queria homenagear seu primo, o vaqueiro Raimundo Jacó. Ele narrou a Nelson como foi o episódio da morte do parente e em pouco tempo a “A Morte do Vaqueiro” ficou pronta.
A música se tornou um marcante sucesso da carreira de Luiz Gonzaga, imortalizando a morte de Jacó e se tornando um dos motores que impulsionaria um dos mais importantes eventos do sertão nordestino, a Missa do Vaqueiro de Serrita.
Mas toda missa precisa de um padre!
Um Padre Antes de Tudo Autêntico
Mesmo hoje em dia, em meio às modernidades televisivas e a velocidade da internet, que mostram toda uma plêiade de padres cantores, certamente chamaria a atenção de todos se fosse divulgado que um padre nascido no sertão de Pernambuco valorizasse tanto as tradições de sua terra, ao ponto de participar de corridas de vaquejada, utilizasse normalmente o gibão de couro e fosse conhecido como “Padre Vaqueiro”.




Padre João Câncio

Imagine isso então no final da década de 1960?
João Câncio dos Santos nasceu em Petrolina, Pernambuco, em 21 de outubro de 1936. Era filho de Francisco Avelino dos Santos e de Laudemira Carvalho Sales. Seguiu sua vocação sacerdotal logo cedo, tendo estudado no seminário do Crato, depois foi para Salvador e João Pessoa, onde se formou padre em 1965.
Sua primeira paróquia foi em Serrita, onde iniciava seu trabalho pastoral com a consciência de que a religião e a fé estão presentes em todas as pessoas. Segundo material produzido pela Fundação Padre João Câncio, o pároco não impôs a comunidade a sua oratória de seminário, mas buscou aproximar-se da comunidade, vivenciando e praticando seus hábitos, com o propósito de entendê-los melhor[9].
No livro “A vida do viajante: A saga de Luiz Gonzaga”, da francesa Dominique Dreyfrus, nas páginas 246 e 247, encontramos a informação que o padre Câncio estava à frente das paroquias de Serrita e Granito desde 1966. Em uma vaquejada realizada em Exu, no verão de 1970, ano de forte seca, conheceu Luiz Gonzaga e daí nasceu uma grande amizade.
O padre Câncio adorava a música “A Morte do Vaqueiro”, que escutava no toca fitas de sua Ford Rural, enquanto seguia para alguma obrigação sacerdotal no meio do sertão.
A autora francesa informa que em meio à seca de 1970, durante as celebrações que ocorriam nas frentes de emergência, que proporcionava aos trabalhadores rurais alguma renda (mínima) em meio à calamidade climática, alguém comentou que “existia missa para todo tipo de gente, mas não havia para vaqueiros”. Logo foi sugerido que uma missa dessas poderia ocorrer no local onde Raimundo Jacó foi assassinado.




1971-Primeiro ano da Missa do Vaqueiro de Serrita, Pernambuco

Como o padre Câncio era um vaqueiro, gostava da música e conhecia Luiz Gonzaga, estava pavimentado o caminho para a Missa do Vaqueiro de Serrita.
Entretanto, ao lermos o trabalho intitulado “Padres do interior II – Os padres da Paroquia de Nossa Senhora do Bom Concelho de Granito”, produzido pelo padre Francisco José P. Cavalcante, e publicado na internet em 2010, afirma que a ideia da famosa Missa do Vaqueiro de Serrita tem relação direta com a prática de celebrar a vida do vaqueiro, criada primeiramente na Diocese de Petrolina, no ano de 1941.
Segundo o padre Cavalcante, em dia 02 de agosto de 1941, com uma concentração na fazenda Lagoa Seca, realizou-se pela primeira vez o “Dia do Vaqueiro”, evento idealizado pelo padre Américo Soares.
Registros informam que os vaqueiros estavam com a indumentária de couro apropriada, dispostos em filas de quatro em quatro e assim entraram na cidade. Depois se dirigiram para a igreja matriz de Nossa Senhora Rainha dos Anjos. No primeiro templo religioso de Petrolina houve uma palestra preparando os vaqueiros para o sacramento da penitência. No dia seguinte, pela manhã, os vaqueiros participaram de missa, na Matriz, presidida por Dom Idílio José Soares. Após duas missas realizadas no mesmo dia, os vaqueiros se concentraram diante do Palácio Diocesano e em seguida partiram em passeata pela cidade.
No ano seguinte a festa se repetiu com cerca de 150 vaqueiros. A programação foi semelhante à apresentada acima, mas com a diferença que o pregador foi famoso e carismático frei Damião de Bozano.




Celebrações de vaqueiros pelo interior do Nordeste não eram incomuns nas décadas de 1940 e 1950. Aqui vemos um encontro de vaqueiros nas ruas de Icó, Ceará – Fonte –http://www.icoenoticia.com

No livro de tombo da Paróquia de Nossa Senhora Rainha dos Anjos, de Petrolina, há uma anotação informando que em 1946, continuava a ser celebrada a Festa do Vaqueiro. Em 21 de julho de 1951 o evento passou a ser presidido pelo padre José de Castro, Vigário Cooperador de Petrolina. Apesar das dificuldades padre José, conseguiu reunir uns 200 vaqueiros.
A ideia de celebrar a vida do Vaqueiro foi imitada em outras paróquias da Diocese, como foi o caso na cidade de Araripina, Pernambuco, onde nos eventos celebrados pelo padre Gonçalo Pereira Lima, os vaqueiros entravam na cidade tocando os seus búzios[10].
1971, A Primeira Missa
Os jornais pesquisados na hemeroteca do Arquivo Público do Estado de Pernambuco não são muito pródigos em relatos sobre a primeira Missa do Vaqueiro realizada em Serrita.




1971 – Luiz Gonzaga na primeira celebração

Ao folhear as velhas páginas, posso entender que o evento estava restrito a ser uma comemoração religiosa que ocorria em uma pequena cidade sertaneja, localizada a mais de 550 quilômetros da capital pernambucana.
Segundo o padre Câncio, a primeira missa contou com o apoio decisivo de Luiz Gonzaga, que patrocinou grande parte do evento. Vários vaqueiros (o número não é especificado) e cerca de “50 outras pessoas” atenderam ao chamamento do padre e do cantador e se fizeram presentes no sítio Lajes.
Os cavaleiros vieram a celebração montados em seus alazões, trajados a caráter e assistiram a missa montados. A comunhão foi celebrada não com hóstias tradicionais, mas com queijo de coalho e rapadura. A missa foi celebrada sobre um tablado de madeira e junto ao padre estavam os familiares de Raimundo Jacó.
Os poucos relatos que me forneceram sobre este primeiro evento mostram uma foto com o consagrado Luiz Gonzaga, de sanfona em punho, cantando o sermão da missa. A pesquisadora francesa Dominique Dreyfus informa em seu livro, página 248, que Gonzaga participou ativamente dos primeiros anos da Missa do vaqueiro de Serrita e apoiou financeiramente o evento até 1974.[11]




Os primeiros eventos foram caracterizados pela simplicidade

Não foi possível precisar a data, mas acredito ter sido no terceiro domingo de julho de 1971, 18 de julho, pois nos anos seguintes seria nesta data que normalmente o evento passaria a ocorrer.[12]
Mas percebemos através dos antigos periódicos que foi tudo muito simples, sem sofisticação, sem recursos eletrônicos, mas com muita fé e um positivo sentimento participativo de todos que ali estavam.[13]
Mas algo aconteceu.




A simplicidade do altar nos primeiros eventos

Não sabemos como se processou, nem como tudo começou, mas em meio à missa simples e tradicional de 1971, com todos os vaqueiros encourados presentes, foram realizadas as tomadas cinematográficas para um documentário. Intitulado “A Missa do Vaqueiro”, era um curta-metragem rodado em 16 m.m., colorido, com 25 minutos de duração e tinha a direção do baiano José Carlos Capinam e do carioca José Carlos Avellar.[14]
Repercussão no Sul do País
Em janeiro de 1972 vamos encontrar o padre João Câncio, os poetas e cantadores Pedro e João Bandeira, na casa de Luiz Gonzaga, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Estavam na “Cidade Maravilhosa” para assistir a uma exibição do trabalho de Capinam e Avellar, mas concederam entrevistas para os periódicos locais “O Jornal” e “Jorna do Brasil”, onde o padre Câncio conseguiu chamar a atenção dos jornalistas cariocas tanto para o seu trabalho como para a incipiente e diferenciada celebração religiosa na zona rural de Serrita[15].
Os jornalistas se impressionaram com a simplicidade e a inteligência do padre Câncio. Afirmaram que ele poderia tanto comentar sobre problemas do sertão, como sobre a “crise de Bagladesh”[16].
Nos anos posteriores a Missa do Vaqueiro de Serrita se consolidou e foi notícia em inúmeros jornais do sul do país. Com a divulgação na mídia o evento cresceu em movimento e fluxo de pessoas, tornando-se uma dos mais importantes eventos do calendário turístico de Pernambuco.




Ao violão o poeta Bandeira, tendo ao seu lado o padre Câncio com seu chapéu de couro. Foto da edição de 12 de janeiro de 1972, do periódico carioca “O Jornal”

Se nos anos seguintes a celebração só cresceu, igualmente ocorreram criticas relativas a descaracterização da pequena e simples festa, da participação negativa das forças políticas regionais no evento.
Anos depois o padre Câncio decidiu deixar a batina, casou com Helena Câncio e veio a falecer no dia 10 de fevereiro de 1989. Não sei até quando o grande Luiz Gonzaga continuou a frequentar o evento. Mas indubitavelmente a Missa do Vaqueiro, mantendo ou não suas características iniciais, deve a estes dois homens, que tanto amavam o sertão, o seu sucesso.
Em 2012, o evento chegou a sua 42ª edição, homenageando o centenário do Rei do Baião, Luiz Gonzaga.

[1] Sobre dados estatísticos de Serrita na década de 1950, ver “Enciclopédia dos Municípios Brasileiros”, 18º Volume, IBGE, 1958, págs. 279 a 281.
[2] Este costume de muitos vaqueiros aboiadores colocarem o dedo no ouvido ao começar a cantar provem da necessidade da transformação da voz do rapsodo, de “voz do peito” em “voz da cabeça”, e à necessidade de manter o equilíbrio em face da vertigem que a cantiga provoca. Verhttp://www.cronopios.com.br/site/colunistas.asp?id=892
[3] Ver “O Jornal”, Rio de Janeiro, edição de quarta feira, 19 de janeiro de 1972, págs. 4 e 5. Pedro e João Bandeira de Caldas, salvo engano, são netos do afamado violeiro Manuel Galdino Bandeira e são naturais do Sítio Riacho da Bela Vista, município de São José de Piranhas, sertão da Paraíba, mas a vida artística destes respeitados violeiros se desenvolveu na cidade do Crato, Ceará.
[4] Ver o “Diário de Pernambuco”, edição de domingo, 20 de julho de 1975, págs. 12 e 13 e a edição de terça feira, 27 de agosto de 1996, págs. 10 e 11, existentes na hemeroteca do Arquivo Público do Estado de Pernambuco. O “Jornal do Commércio”, de Recife, na sua edição de quarta feira, 16 de julho de 1976, pág. 10, aponta que o corpo de Jacó foi encontrado um dia após o seu assassinato.
[5] A cidade de Exu se encontra a cerca de 70 quilômetros de Serrita. O conflito entre as famílias Alencar e Sampaio marcou profundamente a região do Sertão do Araripe, principalmente na década de 1970. Esta briga entre famílias tradicionais só acabou quando o próprio Governo Federal chegou a intervir na cidade, em parceria com outras instituições de Pernambuco, inclusive a igreja católica.
[6] “Diário de Pernambuco”, edição de terça feira, 20 de julho de 1976, página 9. Ver a reportagem sobre a Missa do Vaqueiro.
[7] Na edição de domingo, 27 de agosto de 1996, do “Diário de Pernambuco”, de Recife, trás a informação que José Miguel Lopes, ainda vivo a época da reportagem, jamais participou da celebração famosa, vivendo  praticamente recluso no distrito de Rancharia.
[8] Segundo site http://www.onordeste.com, Nelson Barbalho nasceu no dia 2 de junho de 1918, na cidade de Caruaru, Pernambuco. Não chegou a concluir o curso secundário no Colégio Americano Batista do Recife, regressando à terra natal para trabalhar. Aposentou-se como fiscal do IAPAS, função que lhe permitiu conhecer quase todas as cidades do interior pernambucano, recolhendo, assim, farto material para seus livros. Jornalista, historiador, pesquisador, lexicógrafo, compositor musical (parceiro em diversas músicas com Luís Gonzaga – o Rei do Baião), Nelson Barbalho sempre foi um escritor, autor de quase uma centena de livros, entre os quais destacamos Cronologia pernambucana (com vinte volumes publicados dos quase cinquenta que compõem a obra), perto de vinte livros sobre Caruaru (Meu povinho de Caruaru, Major Sinval, Caruaru do meu tempo, etc.) e outros trabalhos folclóricos como Dicionário da Cachaça, Dicionário do Açúcar, sem contar vários ensaios publicados em jornais e revistas especializadas, na qualidade de estudioso da história e costumes do povo do Nordeste. Faleceu na cidade do Recife, no dia 22 de outubro de 1993.
[10] Certas espécies de búzios marinhos possuem a capacidade de produzir sons fortes, que serviam para comunicação a distância e foram utilizados para esta prática em várias partes do mundo, por vários povos, através dos séculos. No sertão nordestino, de largas paragens, a utilização de búzios era uma forma de comunicação prática entre vaqueiros que tangiam gado no meio da caatinga. Vem daí o termo “buzar”, para tocar o instrumento.
[11] A foto comentada está na edição do periódico carioca “O Jornal”, de quarta feira, 19 de janeiro de 1972.
[12] Ver as páginas do periódico carioca “Jornal do Brasil”, edição de quinta feira, 1 de agosto de 1974, em reportagem realizada pela jornalista Leticia Lins, que seguiu para Serrita para realizar a cobertura da missa que acontecia pela terceira vez, onde temos informes do primeiro evento. Ainda sobre a primeira missa, ver o “Jorna do Commércio”, de recife, edição de terça feira , 18 de julho de 1978.
[13] Em entrevista concedida pelo padre João Câncio e Luiz Gonzaga, ao periódico carioca “O Jornal”, de 19 de janeiro de 1972, afirma que a missa teve a participação de “cinco mil vaqueiros”, número que considero exagerado.
[14] No site http://cinemateca.gov.br temos detalhes deste documentário, mas com o título “A Morte do Vaqueiro”. José Carlos Capinam Jose Carlos Capinam , poeta e compositor. É natural de Esplanada, Bahia, sendo considerado um dos grandes letristas de sua geração.  Poeta desde a adolescência mudou-se para Salvador aos 19 anos, onde iniciou o curso de Direito, na Universidade Federal da Bahia, onde conheceu os estudantes Gilberto Gil e Caetano Veloso, respectivamente dos cursos de Administração e Filosofia. Capinam participou ativamente do movimento tropicalista no fim da década de 60. Uma de suas músicas famosas é uma homenagem ao guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara,” Soy loco por ti, América”, com parceria de Gilberto Gil. Também é compositor da música “Papel Marche”, junto com João Bosco, Em 2000, compôs a ópera Rei Brasil 500 Anos, ao lado de Fernando Cerqueira e Paulo Dourado, uma crítica as comemorações dos 500 anos de Descobrimento do Brasil. Capinam além de letrista, poeta, escritor, é publicitário, jornalista e médico!  Ver http://www.salvadorcomh.com.br. Já o carioca  José Carlos Avellar é Jornalista de formação, trabalhou por mais de vinte anos como crítico de cinema do Jornal do Brasil. Atualmente é integrante do conselho editorial da revista Cinemais e da publicação virtual El ojo que piensa, da Universidade de Guadalajara (México). É consultor dos festivais internacionais de cinema de Berlim (desde 1980), de San Sebastián (desde 1993) e de Montreal (desde 1995). Desde 2006 é também curador (com Sérgio Sanz) do Festival de Gramado e já publicou vários livros de ensaios sobre cinema. Ver http://bancocultural.com.br/cinema/?p=71.
[15] Descobri que o documentário “Missa do Vaqueiro” foi premiado na Jornada Nordestina de Curta-metragem, sendo exibido no MAM – Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, no inicio de outubro de 1973. Ver o “Diário de Notícias”, Rio de Janeiro, edição de domingo, pág. 16, 30 de setembro de 1973.
[16] Bangladesh, antigo Paquistão Oriental, é um país asiático, superpopuloso, que fica entre a Índia e o Golfo de Bengala. Independente do Paquistão em 1971 enfrentou uma sangrenta guerra pela sua liberdade e que durou nove meses, encerrando no dia 16 de dezembro de 1971. Bangladesh contou com o apoio da Índia, que se envolveu no conflito contra o Paquistão. Este conflito, devido ao alto número de mortos civis, as terríveis imagens de pessoas famintas em meio aos combates, chamou a atenção dos países ocidentais.
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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Oposição afirma que operação Triplo X é mais um passo no fechamento do cerco ao ex-presidente Lula


Ministro da Justiça ressaltou que fase da Lava-Jato está sob sigilo.

OGLOBO.GLOBO.COM

Líderes da oposição dizem que a operação da PF é mais um passo no fechamento do cerco ao ex-presidente Lula e a seu suposto envolvimento nos desvios da Petrobras. Já o provável futuro líder do PT na Câmara, Afonso Florence (PT-BA), reclama que há uso político e um direcionamento nas investigações da Lava-Jato, no sentindo de ignorar indícios envolvendo líderes da oposição, e de perseguição ao ex-presidente Lula.

— Supostas pistas, muito inconsistentes , e muito uso político num nítido ataque a Lula. Enquanto isso a opinião pública quer a continuidade das investigações imparciais. Fica a pergunta sobre as delações e tantas evidências de envolvimento dos presidentes do PSDB Sérgio Guerra e Aécio Neves, este último candidato a presidente. Mais uma vez , tudo leva a conclusão de que a Lava-jato não investiga o PSDB — reclama Florence.

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PE), diz que o melhor é não confundir polícia com política 

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 — Sobretudo em se tratando de um ex-presidente da República. Deixemos as instituições funcionar, aguardemos as conclusões da investigação e cobremos que a lei seja aplicada para todos — diz Cunha Lima.

Líderes do Democratas dizem que o nome da operação, Triplo X, fala por si só e remete claramente ao triplex que seria de familiares do ex-presidente. Acham também que, para avançar nessa fase da Operação Lava-jato, o juíz Sérgio Moro, procuradores e investigadores da Polícia Federal têm indícios muito fortes sobre o uso da empreiteira OAS e empresas de fachada para ocultar propinas de negócios da Petrobras.

Para os democratas não há dúvidas também que, apesar de não citar explicitamente o triplex do Edifício Solaris, onde a família do ex-presidente tinha opção de compra, o alvo é mesmo Lula.

— Aquele condomínio Solaris pouco importa, o objetivo é o triplex da família. E Lula não nasceu ontem e sabe disso. Ele e seu grupo já tinham divergências sérias com o ministro Cardozo. Essa investigação vai produzir consequências políticas profundas. Vai colocar sob impasse definitivo a relação de Lula com Dilma. Estamos muito perto disso. Não haverá uma reação explícita contra Cardozo, mas o azedamento das relações é inevitável _ avalia o presidente nacional do Democratas, senador José Agripino Maia (RN).

— A Lava-Jato mira diretamente no condomínio do Bancoop operado por Vaccari, tesoureiro do PT. O nome da operação não deixa dúvidas: "Triplo X"! Esse é o condomínio onde investigações apontam que Lula possui triplex reformado e ocultado pela OAS, uma das empresas achacadas no Petrolão — completou o líder do Democratas no Senado, Ronaldo Caiado (GO).

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, diz que a Operaçao Triplo X reforça os indícios já existentes contra o ex-presidente Lula. O socialista diz que “os fatos vão se juntando no conjunto da obra” e podem ter um impacto político eleitoral grande, desgastando ainda mais a imagem de Lula e do PT.

— Obviamente não é o que desejo, mas a realidade é sempre perigosa, para o bem ou para o mal e o contexto de Lula é muito complicado. Isso terá um impacto muito negativo para Lula, uma liderança política que ainda tem um bem querer na população — diz Siqueira.

O líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), igualmente considera que “o cerco “ contra Lula vai se fechando a ponto de lhe deixar como alternativa apenas atacar os investigadores.

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— A Polícia Federal já está na vizinhança de um dos principais chefes da organização criminosa que assaltou não só a Petrobras, mas diversas empresas públicas do país. Com a investigação contra os seus filhos e outra sobre a evolução de seu patrimônio pessoal, Lula partiu para o ataque. Mas a ação de hoje mostra que a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal não se intimidaram — afirmou Rubens Bueno.

O líder do Democratas na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE) , avalia que a Triplo X trouxe atingiu em cheio as bases petistas, em São Bernardo do Campo , mas diz que o Brasil democrático tem que assegurar o funcionamento das instituições, independente dos interesses partidários.

— As investigações chegaram no território mais vermelho e mais petista do Brasil, que é o ABC paulista. Há muito os petistas ligados a Lula cobram de Cardozo e quando cobram, é na lógica de que o governo tem que fazer a política da proteção ao PT e perseguição aos adversários — alerta Mendonça Filho.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Alagoinhas-Bahia: Partido dos Trabalhadores perde 52 filiados

Partido dos Trabalhadores de Alagoinhas perde 52 filiados

Pedro Sobral, Juci Cardoso, Clécio Oliveira e Cláudia Campos, que compõem o Elo Municipal (coordenação) da Rede Sustentabilidade em Alagoinhas, entregaram ontem (26) à vice-presidente do PT, Edjnajara Santos Lima, 52 cartas de desfiliação do Partido dos Trabalhadores.

Três membros da família Schramm, que se filiaram em junho de 1981, estão entre os ex-petistas.

Adelson de Jesus Gomes, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoinhas, filiado desde 1985, também saiu do PT. Seu filho, Adelson de Jesus Gomes, deixa a sigla após quase cinco anos de filiação.

Antônio Lino de Amorim, funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), é agora ex-petista. Lino estava no partido desde 2003.

Ednaldo dos Reis Lima, secretário-geral do Sindicato dos Comerciários, é outro que compõe a lista de desfiliados da legenda lulista.

Paulo Sérgio Silva, que militou no Sindicato dos Rodoviários, também deixou o partido.

Os três – Lino, Ednaldo e Paulo – foram candidatos pelo PT à Câmara de Vereadores de Alagoinhas.

No total, 52 desligamentos de filiados e militantes petistas foram entregues ontem à direção partidária local.

Segundo Pedro Sobral, uma nova lista será fechada nos próximos dias e terá o nome do advogado Adrião Barbosa Fonseca, presidente do Sindicato dos Comerciários. Adrião já anunciou publicamente sua saída do PT e o apoio à pré-candidatura de Radiovaldo Costa à Prefeitura de Alagoinhas.

Sobral afirmou ao Alagoinhas Hoje que outras desfiliações do PT são esperadas. “Há grande insatisfação interna no partido e as pessoas estão buscando novos caminhos. Muitos se filiarão à Rede, outros apoiarão Radiovaldo mesmo sem filiação partidária”, frisou Sobral, acrescentando “que existem pessoas que se manterão no PT, mas votarão no candidato da Rede, porque se posicionam de forma autônoma”.

Ele reafirma a importância do apoio à pré-candidatura de Radiovaldo de ex-militantes históricos do PT, que ajudaram a construir coletivamente o partido e participaram das vitórias eleitorais de 2000 e 2004, como também dos embates seguintes (2008/2012), quando a legenda não logrou êxito na disputa pela Prefeitura de Alagoinhas.

O presidente do PT de Alagoinhas, Edinaldo Oliveira, está temporariamente afastado do dia a dia da legenda. Lívia Maria, do diretório municipal do PT, participou ao lado de Ednajara, do recebimento oficial das cartas de desfiliação.